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Promotores do Gaeco dão detalhes sobre atuação de investigados em operações feitas em Uberlândia

Delegados, policiais, advogados e vereadores estão entre presos na 'Torre de Babel', 'Mercúrio' e 'Poderoso Chefão'. Balanço parcial da prisão é divulgado; áudio ajuda na investigação. Reportagem procurou defesa dos citados.

 

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Uberlândia, com apoio das polícias Militar e Civil, divulgou o balanço parcial de três operações deflagradas na manhã desta sexta-feira (25).

As operações "Torre de Babel" e "Mercúrio" tiveram desdobramentos. Já a Operação "Poderoso Chefão" ocorreu em primeira fase. Cerca de 280 policiais participaram das ações. Os alvos são servidores públicos de Uberlândia como vereadores, policiais militares e civis, além de advogados.

VÍDEO: MG1 traz informações sobre operações feitas em Uberlândia

 

Presos

Até o início da tarde desta sexta, 32 pessoas foram presas. Dentre elas, 12 policiais, sendo oito civis (entre eles os delegados Eduardo Leal e Vitor Adriano Dantas) e quatro militares. Um policial militar ainda não foi encontrado.

Três vereadores foram alvos de ordem judicial de prisão: Wilson Pinheiro (PP) foi preso, Alexandre Nogueira (PSD) é considerado foragido e Juliano Modesto (SD) já estava preso.

Ao todo, 76 pessoas são investigadas e, segundo o Ministério Público Estadual, são cumpridos 75 mandados de busca e apreensão e 88 mandados de prisão preventiva e uma temporária.

Conforme o Gaeco, o número de presos pode ser atualizado durante o dia. O G1 pediu procurou os defensores dos citados na reportagem (veja abaixo).

A reportagem do G1 e a produção da TV Integração procuraram as defesas dos envolvidos que foram citados e a Corregedoria da Polícia Civil. Veja até o momento os retornos ao final da matéria.

O delegado regional Marcos Tadeu de Brito Brandão comentou sobre a prisão dos policiais da corporação.

“Foram cumpridos 100% dos mandados de prisão contra policiais civis. A corregedoria já foi acionada e vai tomar medidas. As investigações continuam. Não posso detalhar a participação deles para não prejudicar as investigações. Eles serão encaminhados para casa de custódia em BH”, informou.

Já o coronel Claudio Vitor Rodrigues, comandante da PM em Uberlândia, reforçou os êxitos das operações no combate ao crime na cidade que, segundo ele, tiram bandidos de todos os tipos das ruas.

“O crime organizado que vem de cima gera uma cadeia de crimes menores e de violências maiores. Por isso, a importância de combater em todas as pontas. A PM, Civil e o Ministério Público estão alinhados em Uberlândia para retirar de circulação criminosos na cidade, seja quem for”, afirmou.

 

Gaeco

Para o coordenador do Gaeco na cidade, promotor Daniel Marotta, todas as operações precisam ter continuidade até que a missão final seja cumprida.

 

“O Gaeco mostra que as ações têm continuidades e por isso seguem as investigações. Hoje, demos sequência aos trabalhos e intensificamos a questão do 'Poderoso Chefão'”, disse o promotor.

 

Ainda segundo Marotta, o nome desta operação é uma referência ao chefe da organização, que seria, segundo o Gaeco, o vereador Alexandre Nogueira.

 

Operações

A Operação “Poderoso Chefão” foi desencadeada em Uberlândia nesta sexta e investiga fraude e desvio de dinheiro envolvendo vans que prestam serviço para o município. Já o desdobramento da “Mercúrio” apura crimes de corrupção passiva e ativa envolvendo policiais civis.

Por sua vez, a Operação "Torre de Babel" é feita em Uberlândia, São Gotardo, além das cidades de Itumbiara e Goiânia no estado de Goiás. (Veja detalhes abaixo)

 

Poderoso Chefão

Segundo o MPE, a Operação “Poderoso Chefão” investiga uma organização criminosa que atua no desvio de recursos públicos vindos de contratos de prestação de serviço público municipal de transporte de alunos.

O Gaeco apura crimes de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro por dirigentes e empresas com ligação à Cooperativa dos Transportadores de Passageiros e Cargas (Coopass) e à ATP, prestadoras de serviço de transporte escolar à Prefeitura.

 

Esquema

Segundo investigações, a quadrilha lavava dinheiro por meio de laranjas e diversas empresas que estavam em nomes de dirigentes da Coopass e da ATP.

O esquema contemplava falsificação de documentos e adulteração de quilometragem percorrida pelos veículos para que fosse feito o repasse dos valores superfaturados à ATP.

Em 2015, a Câmara de Uberlândia chegou a criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as irregularidades constatadas. Na época, a CPI foi presidida pelo vereador Wilson Pinheiro e Alexandre Nogueira era presidente da Casa.

De acordo com o Gaeco, a CPI teria sido utilizada pelos vereadores investigados para pressionar o então prefeito Gilmar Machado (PT) a contratar a ATP, que foi fundada pelo mesmo grupo responsável pela Coopass e ligada aos vereadores Alexandre Nogueira e Juliano Modesto.

Foi cumprido também mandado contra um servidor que já exerceu, no passado, cargo de Controlador Geral da Câmara Municipal cujo nome ainda não foi divulgado.

Também foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão e determinado o sequestro de bens e valores dos investigados no limite de R$ 7 milhões.

 

Áudio de vereador faz parte de denúncia

Entre os documentos apresentados pelo Gaeco está um áudio enviado por Alexandre Nogueira no início de 2019 em um grupo criado no WhatsApp com motoristas de vans onde ele critica a saída dos profissionais da cooperativa para se tornarem individuais durante um uma seleção da Prefeitura.

Segundo informou o promotor Marotta, a conversa mostra que o vereador ficou inconformado que a cooperativa não iria mais existir.

"O áudio tem um tom de ironia. A questão é que ele estava inconformado com o fim do contrato com a cooperativa, pois se os motoristas se cadastram individualmente, eles não paga taxa de mensalidade por não ser associado e a cooperativa perde razão de existir. Como ele fazia ganhos em torno disso, ficou incomodado”, explicou.

 

Torre de Babel

O Gaeco também realiza um desdobramento da Operação "Torre de Babel" com 57 investigados, entre eles cinco policiais militares e cinco civis. A segunda fase da operação constitui novo desdobramento da Operação Dominó.

“O que mais nos chamou atenção foi que a organização criminosa contava com núcleo formado por cinco policiais civis e cinco militares que davam cobertura a atividades delituosas, repassavam informações privilegiadas, desprezando os deveres como policiais. No caso, quatro militares já estavam presos em outras operações", disse o promotor Daniel Marotta.

 

Primeira fase

Na primeira operação, o Gaeco cumpriu no dia 10 de outubro diversos mandados judiciais em Uberlândia, Uberaba e Monte Carmelo contra mais de 100 investigados. Até o início da semana, nove pessoas seguiam foragidas.

Os alvos foram três organizações criminosas distintas envolvidas em roubos de carga, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, receptação de veículos, irregularidades em contratos públicos e até homicídios.

Um dos mandados foi contra o vereador Juliano Modesto (SD) e outro, de busca e apreensão, contra o vereador, Alexandre Nogueira (PSD).

 

Operação Mercúrio

Ainda nesta sexta, foi feita a segunda fase da Operação “Mercúrio” com foco na apuração de crimes de corrupção passiva e ativa, envolvendo policiais civis de Uberlândia e integrantes de organização criminosa atuante no ramo de roubo de caminhões e cargas.

Segundo o Gaeco, foram cumpridos três mandados de prisão preventiva, sendo contra os delegados Eduardo Leal, denunciado por corrupção passiva, e Vitor Adriano Dantas (suspenso das atividades após ser preso na Operação Fênix), além de um investigador. Também foram cumpridos três mandados de busca e apreensão.

A reportagem está em contato com os advogados de defesa dos citados.

Primeira fase

A primeira fase foi realizada no final de agosto em dez estados do país para combater uma quadrilha especializada em roubo e receptação de caminhões e cargas, agiotagem além de lavagem de dinheiro.

Mandados judiciais foram cumpridos em Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Pará, Paraná, Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Santa Catarina.

Na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba foram cumpridos 42 mandados de prisão, sendo maior parte em Uberlândia.

 

O outro lado

O advogado Heitor Rodrigues de Souza Leão, de defesa do delegado Vitor Dantas, informou para a produção do MG1 que vai se posicionar somente após tomar conhecimento do processo.

A corregedoria da Polícia Civil se pronunciou por meio do Delegado-chefe do 9º Departamento de Polícia Civil, Marcos Tadeu de Brito, que disse que medidas serão tomadas e investigações continuam.

O advogado Rodrigo Ribeiro, que defende os três vereadores, disse que ainda não teve acesso ao processo nem à decisão, que considerou desnecessária a prisão dos vereadores. Informou que os parlamentares prestarão todas as informações solicitadas pelo Ministério Público e que tem confiança de que o poder judiciário logo restabelecerá a liberdade dos vereadores.

O presidente do Partido Social Democrático (PSD), do qual faz parte Alexandre Nogueira, informou que vai se inteirar dos fatos e, por enquanto, não vai se posicionar.

O presidente do Partido Progressista (PP), do vereador Wilson Pinheiro, enviou nota dizendo que conhece o caráter do político e conduta ética frente aos mandatos do parlamentar. Já o Solidariedade (SD) já realizou a suspensão e aguarda a expulsão de Juliano Modesto do partido.

Em contato com o presidente da Câmara Municipal, vereador Hélio Ferraz "Baiano" (PSDB), ele disse que não vai se pronunciar.

A reportagem segue em busca do posicionamento dos demais envolvidos.

 

Matéria publicada no site G1 na data 25/10/2019.