Uma testemunha ouvida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), no dia 23 de outubro deste ano, confirmou que o vereador de Uberlândia Alexandre Nogueira (PSD) comandava a Cooperativa dos Transportadores de Passageiros e Cargas de Uberlândia (Coopass) e a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), enquanto ocupava cargo no legislativo. O depoimento foi importante para o MPMG pedir a prisão do parlamentar.
Dois dias antes de desencadear a Operação "Poderoso Chefão", o MPMG ouviu a testemunha, que teve a identidade preservada, e afirmou que Alexandre Nogueira iniciou como motorista da cooperativa e assumiu o controle da instituição tempos depois.
“Tinha uma diretoria que fundou ela, foi o Lima Duarte, que já faleceu, e o senhor Ari, que foram as cabeças da fundação. Aí eles ficaram por um ou dois mandatos, quando o Alexandre assumiu e segura até agora”, disse a testemunha.
Quando questionado pelo promotor Adriano Bozzolla se Nogueira se afastou do comando da Coopass, a testemunha afirmou que o vereador nunca se afastou completamente.
“Afastou vírgula, né! Sempre estava ligado à Coopass. Comandava. Comandava porque as ordens vinham de lá, então ele comandava. Sempre tinha o aval dele.”
A testemunha disse ainda que, após a Coopass perder o contrato para a empresa MTGO durante o mandato do ex-prefeito Gilmar Machado (PT), houve movimentação na cooperativa para pressionar e retomar o serviço.
“Chamaram todo mundo pra porta da prefeitura para fazer uma pressão. As vans estacionaram ali pra fazer uma pressão sobre o que estava acontecendo. Pressão pra retomar esse serviço de volta.”
O contrato foi retomado, porém, pela ATP. E foi a partir daí que a testemunha desconfiou que houvesse superfaturamento da quilometragem em planilha.
“Nós temos os nossos relatórios, temos o protocolo que a gente entregou. E a quilometragem que chegou à Prefeitura, a planilha que chegou lá, é bem alterada.”“Nunca recebi a mais. Quando eles descobriram que a gente tinha descoberto isso, foi a época que eu fui ameaçado. Eles chamaram alguns dos cooperados, eles chamaram lá e falaram: se perguntar pra vocês quanto vocês rodavam, vocês colocam 50 km por dia pra cima.”
À produção da TV Integração, o promotor Adriano Bozzolla afirmou que o vazamento do depoimento não foi feito pelo Ministério Público.
O advogado de defesa de Alexandre Nogueira, Rodrigo Ribeiro, disse que os depoimentos foram vazados ilegalmente por adversários políticos.
A produção do MG1 procurou o ex-prefeito Gilmar Machado. Ele disse que já havia informado ao Ministério Público quem desviava dinheiro da Prefeitura e que “ele não ficou rico com dinheiro de van”. Gilmar Machado disse ainda que a CPI da Câmara foi montada para chantagear ele.
Segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Operação “Poderoso Chefão”, deflagrada pelo Gaeco em 25 de outubro, investiga uma organização criminosa que atua no desvio de recursos públicos vindos de contratos de prestação de serviço público municipal de transporte de alunos.
O Gaeco apura crimes de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro por dirigentes e empresas com ligação à Cooperativa dos Transportadores de Passageiros e Cargas (Coopass) e à ATP, prestadoras de serviço de transporte escolar à Prefeitura.
Segundo investigações, a quadrilha lavava dinheiro por meio de laranjas e diversas empresas que estavam em nomes de dirigentes da Coopass e da ATP.
O esquema contemplava falsificação de documentos e adulteração de quilometragem percorrida pelos veículos para que fosse feito o repasse dos valores superfaturados à ATP.
Em 2015, a Câmara de Uberlândia chegou a criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as irregularidades constatadas. Na época, a CPI foi presidida pelo vereador Wilson Pinheiro, e Alexandre Nogueira era o presidente da Casa.
De acordo com o Gaeco, a CPI teria sido utilizada pelos vereadores investigados para pressionar o então prefeito Gilmar Machado (PT) a contratar a ATP, que foi fundada pelo mesmo grupo responsável pela Coopass e ligada aos vereadores Alexandre Nogueira e Juliano Modesto.
No dia 30 de outubro de 2019, o ex-vereador e atual secretário Municipal de Obras, Norberto Nunes, disse à TV Integração que a CPI foi criada para verificar o contrato do Município com a MTGO, que era contratada na gestão passada para realizar o transporte dos estudantes.
Durante a Operação "Poderoso Chefão", também foram cumpridos mandados de prisão contra o vereador Wilson Pinheiro, e Adeilson Barbosa Soares, que já exerceu o cargo de Controlador Geral da Câmara Municipal.
Ainda foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão e determinado o sequestro de bens e valores dos investigados no limite de R$ 7 milhões.
O vereador Wilson Pinheiro foi preso pela manhã do dia 25 de outubro e teve a prisão domiciliar liberada pela Justiça na noite do mesmo dia, pois o legislador ainda se recupera de procedimento cirúrgico. No dia 30 de outubro, o parlamentar passou mal e chegou a ser levado para o hospital.
Já o vereador Alexandre Nogueira se apresentou à polícia no início da tarde do dia 25 de outubro e continua no presídio depois de a Justiça negar habeas corpus ao parlamentar. Conforme o Gaeco, o nome desta operação é uma referência ao chefe da organização, que seria, de acordo com as investigações, o vereador Alexandre Nogueira.
Já Juliano Modesto, que também é investigado pela ação, já estava preso pela Operação "Torre de Babel". Ele também teve habeas corpus negado pelo TJMG e pelo STJ e continua o presídio Jacy de Assis.
A reportagem não encontrou o advogado que faz a defesa de Adeilson Barbosa Soares, apontado pela testemunha como diretor das cooperativas junto com Alexandre Nogueira.
Matéria publicada na data 08//11/2019 no site G1.